Doutora Isabela, advogada, Conselheira Regional (Santos) da Seccional São Paulo, é a Presidente da Comissão Estadual da Mulher Advogada. Nesta entrevista – exclusiva – fala um pouco sobre as conquistas, desafios e o papel da OAB nessa luta.
por Vilma Cristina de Mendonça
Presidente da Comissão de Combate à Violência de Gênero da OAB/SV
JornaldaAdvocacia: Temos mulheres presidentes nas Seccionais de São Paulo, Santa Catarina, Paraná, Bahia e Mato Grosso. Um feito histórico – longe do ideal, sabemos disso. Mas, a que se deve esse salto na representatividade feminina à frente de importantes Seccionais – e muitas Subseções também?
Dra. Isabela: Eu acredito que as mulheres estão conseguindo ocupar o seu lugar, mostrar que são competentes e os homens estão aceitando melhor.
Não que antes elas não tivessem as qualificações para ocupar esses cargos, mas havia muita reserva. E outra coisa: nós não tínhamos a Lei de Cotas. Temos que a Lei de Cotas foi aprovada três anos atrás, porém, quando ela foi aprovada, ela não foi aprovada para valer naquela eleição de 2018 e sim apenas para a eleição de 2021. Então, a partir do momento em que isso foi obrigatório, os homens que faziam parte aqui da Direção da OAB – em todos os níveis: municipal, estadual ou federal – tiveram que aceitar e colocar nas chapas as mulheres para compor. e não só nas chapas de Diretoria, mas também nas chapas dos Conselhos também.
Tudo isso fez com que eles fossem procurar mulheres que estivessem dispostas e que quisesse aceitar esse desafio. E eu vejo que isso trouxe muitas mulheres a participar, trouxe satisfatoriamente cinco presidentes estaduais, muitas presidentes de Subseção – e acredito termos cada vez mais mulheres participando.
JornaldaAdvocacia: Em São Paulo vivemos um momento histórico – Dra. Patrícia Vanzolini à frente da Seccional, Adriana Galvão Moura Abílio na Presidência da CAASP. Nesse cenário, qual a importância da Comissão da Mulher Advogada da OABSP?
Dra. Isabela: A importância é muita. A responsabilidade é enorme, claro, nós sabemos que a cobrança será muito grande, porque nós estamos tendo esta oportunidade – abriu este portal, digamos assim, e se quebra uma barreira – até mesmo emocional que havia, e nós conseguimos passar.
Então a Comissão da Mulher Advogada terá, entre outras missões, a de aumentar a representatividade das mulheres, de fazer com que elas se sinta realmente capazes e incentivadas a ocupar cada vez mais espaços e a trabalhar cada vez melhor.
JornaldaAdvocacia: Mês da Mulher. Muito a se comemorar, mas muito ainda a alcançar. Quais ainda são os maiores obstáculos à mulher advogada no mercado de trabalho? Como a OABSP, através de sua Comissão pretende atuar?
Dra. Isabela: Bom, sobre isso, poderia falar durante horas, mas, resumidamente, a Comissão da Mulher Advogada vai trabalhar com oito Coordenadoras, além das Coordenadoras regionais. Essas Coordenadoras de Trabalho são pilares que consideramos mais importantes de destacar, entre eles justamente a Mulher no mercado de trabalho – igualdades e desigualdades, que é coordenado pela Doutora Dione – que está fazendo doutorado nesse tema – e existem inúmeras questões que iremos colocar. Há o pilar da Advogada 5.0, que é estruturar a mulher para todo o alcance tecnológico e toda essa nova forma de se posicionar no mercado. E temos um outro pilar que é sobre a Mulher nos Escritórios.
Então veja que de oito pilares, três são dedicados ao trabalho – área onde as demandas são enormes, os problemas e obstáculos são muito grandes, o teto de vidro, a desigualdade salaria entre homens e mulheres. Tem ainda a dificuldade de ocupar quadros de ocupar cargos de representação, isso não é só fora da OAB – dentro do mercado da OAB também, principalmente para aquelas mulheres que trabalham em grandes escritórios. Iremos trabalhar muito e espero que ao final desse três anos tenhamos evoluído bastante e consigamos conscientizar muitas pessoas sobre a valorização da mulher e o quanto todos ganham com isso!
JornaldaAdvocacia: Quais os maiores desafios da Comissão?
Dra. Isabela: O grande desafio da Comissão é trazer os homens a participarem – ou no mínimo a ouvirem o que a Comissão tem a dizer. Nunca teremos igualdade ou melhorar os índices do Brasil – vergonhosos mundo afora – pois ainda temos patriarcado e machismo enraizado na nossa cultura e na sociedade.
O grande desafio da Comissão é trazer os homens a participarem – ou no mínimo a ouvirem o que a Comissão tem a dizer.
Não adianta eu conversar somente com as mulheres. Claro, preciso mostrar a elas que muitas violências que elas aceitam, que elas convivem, são ruim, não são mais aceitas, não fazem mais parte do comportamento que se espera da sociedade atual.
Mas além de falar a esta mulher que ela está sofrendo uma violência que ela não deve mais aceitar, eu preciso também falar a este homem, contar a ele que as Leis mudaram, que o comportamento adequado mudou e que as referências são outras. Eu preciso que ele seja o nosso aliado!
JornaldaAdvocacia: Para finalizar: uma mensagem à mulher vicentina.
Dra. Isabela: Olha, nós vamos trabalhar muito para as subseções – não será uma Comissão que pretende trabalhar só na Capital ou só para mulheres de destaque ou qualquer outra coisa: nós queremos realmente pulverizar a Comissão para atender a todos. Eu sou e estou em Santos – bem pertinho, bem próximo.